O Hospital Veterinário da Universidade Paranaense – Unipar recebeu, na quinta-feira (5), um paciente especial, que mudou a rotina do ambiente acadêmico: um cervo galheiro, de dois meses, que se perdeu da mãe e foi capturado machucado, após um incêndio na Ilha Grande (São Jorge do Patrocínio). O cervo foi atendido pelo professor do curso de Medicina Veterinária, Salviano Belettini, especialista em animais selvagens.
Para o atendimento, o veterinário contou com o auxílio de outros médicos do HV e acadêmicos. O animal passou pela sala de diagnóstico por imagem. A radiografia acusou fratura em um dos ossos do antebraço. Os médicos veterinários Diogo Camillo e Michelle Camillo, de São Jorge do Patrocínio (egressos do curso de Medicina Veterinária) foram os primeiros a atender o animal. É que eles fazem trabalho voluntário em uma chácara que acolhe animais silvestres para reabilitação. O cervo foi levado para lá, antes de eles trazerem para o HV.
“Percebemos que o animalzinho precisava de atendimento especializado, por isso recorremos ao HV, onde fomos prontamente atendidos”, conta Diogo. Segundo o professor Salviano, com alguns cuidados o animal tem grandes chances de se recuperar: “A princípio, com imobilização e tratamento medicamentoso, acredito que a fratura vai ser resolvida; posteriormente, dependendo da evolução do quadro, ele poderá ser reintegrado à natureza”. Este é um entre os vários casos especiais que o HV atende no dia a dia. Ao longo dos seus 19 anos de história, já fez incontáveis atendimentos a animais silvestres, uma das especialidades do HV. Leão, tigre, macaco, raposa, quati, coruja e cobra são alguns exemplos de pacientes selvagens recebidos.
Os primeiros trabalhos nesta área foram realizados pelo professor doutor José Ricardo Pachaly, que é referência internacional nesta modalidade; na Unipar, Pachaly leciona na graduação e nos cursos de especialização e de mestrado e doutorado em Ciência Animal. Salviano foi aluno de Pachaly. Ele conta que atender animais silvestres é diferente em relação aos domésticos: “O que muda são os métodos de abordagem e de logística… precisamos tirar os animais domésticos de perto, para que os silvestres não se estressem e não venham a ter maiores complicações, ou seja, precisamos isolar o espaço em que vamos trabalhar. Dá um pouco mais de trabalho, mas no final é gratificante poder aliviar ou acabar com o sofrimento dos bichinhos”.
O secretário de Meio Ambiente de São Jorge do Patrocínio, Ronaldo Bunzel, acompanhou o procedimento no HV. Ele lamentou o fato. “Este cervo teve a sorte de ter sido socorrido, mas muitos outros animais, vítimas de queimadas, acabam morrendo”, comentou. E ratificou sua indignação com as queimadas: “Infelizmente, sempre depois que ocorrem, deixam um rastro grande de destruição, prejudicando consideravelmente não só a flora, mas também a fauna da Ilha Grande. Isso é lamentável! Nossa região não tem nenhum lugar para recorrermos em casos mais graves, mas felizmente a Unipar sempre está à disposição e nos socorre”.