Alguns fatos trágicos marcaram a primeira semana de fevereiro de 2021. Mas um deles, ocorrido na região Oeste do Paraná, chamou mais atenção pelas circunstâncias.
Dois motoristas – pai e filho – acordaram cedo em Santa Terezinha de Itaipu, onde a família reside. Tomaram tererê, se despediram de familiares e cada um assumiu a direção de uma carreta modelo FH, carroçaria graneleira, e pegaram a estrada para mais um frete de transporte de cereais.
O destino era Campo Novo do Parecis, no Mato Grosso, distante cerca de 1.800 km de Santa Terezinha. O que era para ser mais uma viagem rotineira de serviço, se transformou em uma tragédia no caminho.
O pai Ademir com a sua carreta na frente. O filho Henrique, com a sua atrás. A primeira carreta iria parar em Assis Chateaubriand para embarcar uma peça metálica.

Era por volta das 8h daquela quinta-feira (4) quando as duas FH entraram pela Rodovia BR-467, entre Cascavel e Toledo. O pai relata que após passar o Rio Lopeí, avistou um veículo pequeno parado na lateral da via, e outro lento, ao passar por ele.
A reação do carreteiro foi reduzir a velocidade e desviar para a segunda pista para não provocar um acidente. O filho, que seguia atrás, ao completar uma curva, não esperava pela manobra brusca e bateu sua carreta violentamente na traseira daquela que era conduzida pelo seu pai.
O impacto foi forte. Parte da extremidade da carroçaria cortou a cabine de Henrique Matheus e prendeu seu corpo. Em seguida, o fogo começou a tomar conta daquele compartimento. O pai conta que ainda tentou acelerar sua carreta para se desprender, mas a ação não teve resultado.
Desesperado, tentou socorrer o filho que gritava por socorro, preso nas ferragens, mas as chamas o impediram. “Pai, não me deixe morrer! Eu amo todo mundo”, foram as últimas palavras proferidas por Henrique na agonia da morte iminente.

Um homem foi visto com um bastão na mão tentando ajudar no resgate, enquanto o fogo consumia a cabine da carreta acidentada. Um outro homem, em vez de apoiar, pedia pra ele se afastar porque o tanque de combustível poderia explodir – ‘já foi’… O ajudante solitário ainda justificava sua insistência: “Ele está vivo, estou conversando com ele”. Valeu pelo empenho e significância do ato.
A indignação de milhares de pessoas ficou por conta da inutilidade e indiferença de vários caminhoneiros e de motoristas de veículos menores que passaram pela rodovia naquele momento fatídico ao lado do sinistro. Preferiram ligar câmeras de telefones celulares e filmar as cenas a empunhar um extintor e contribuir na eliminação do incêndio para salvar uma vida. Instantes depois, as imagens se multiplicaram pelas redes sociais. A sensação foi de que faltou senso de humanidade aos pseudos ‘colegas’ de estradas.
O jovem caminhoneiro, de 23 anos de idade, morreu carbonizado, sem poder contar com a solidariedade e coleguismo de muitos que proclamam ter.
Após o resgate do corpo do filho por soldados bombeiros, o pai encontrou uma Escritura Sagrada, livro preferido que o filho o mantinha no painel do caminhão.
Desde criança Henrique Matheus era apaixonado por caminhões. Aprendeu dirigir e, depois dos 20 anos, começou a viajar com a nova carreta da família, junto com o pai.
O sepultamento de Henrique Matheus aconteceu no final da tarde do dia 5 de fevereiro. Familiares e amigos lhe prestaram uma homenagem póstuma. A urna funerária seguiu ao campo santo em uma carreta que representou a sua última viagem. “Era meu grande companheiro nas estradas”, disse o pai. Se lhe resta consolo, é o fato de o filho ter realizado o sonho de ter um dia conduzido um bruto potente pelos caminhos do Brasil.
A vida importa!
Fotos: Reprodução.